...
"Coloquem-se duas imagens quaisquer lado a lado e o resultado é uma história. Com a cumplicidade do fotógrafo, um caminho é imediatamente rasgado e uma sequência temporal imposta. Conscientemente, ou inconscientemente, somos levados por aquilo que vemos. Por tramas e teias, portas e janelas, ruas, espaços intensamente iluminados ou, pelo contrário, abraçados por uma escuridão sem fim. Sugestionados pelas imagens que recepcionamos, criamos toda uma viagem tendo como ponto de partida o olhar fixo do capturador de imagens. Que fazer então quando confrontados com três ou mais imagens reunidas numa composição, em que uma delas se nos apresenta como um ponto de fuga? Devemos forçar o olhar e percorrer tudo aquilo que o rodeia? Ou, antes pelo contrário, devemos deixar-nos seduzir por este vislumbre de um outro mundo, uma outra realidade? Onde nos situamos e para onde queremos (ou devemos) ir?
Tal é a proposta de Rui Santos, um jovem fotógrafo e designer nesta sua (...) mostra. Um conjunto de composições, reunindo pequenos detalhes de um mundo por vezes vagamente reconhecível e justapondo-os com algo inesperado. Por vezes, esta associação é tensa. Os detalhes, como que são violentamente presos a uma narrativa em que nem eles se querem ver associados. A co-habitação, pesada, mas surpreendentemente, necessária e equilibrada. Outras vezes, a combinação é tão harmoniosa que se diria estar perante uma única imagem; um encontro feliz entre elementos. A ambos os casos, é ainda acrescentada uma janela bem no centro da composição. E de repente, tudo se harmoniza." Filipe Santos